Pobreza e meio ambiente - Ricardo Rose

Calvin

Há, sem dúvida, uma estreita relação entre a pobreza e a degradação do meio ambiente. No entanto, existem diversas maneiras de analisar esta correspondência, dependendo dos interesses de quem faz o estudo. Uma idéia bastante aceita, por exemplo, é a de que populações pobres têm um impacto maior sobre o ambiente em que vivem, do que outros grupos de maior renda. De maneira superficial, este raciocínio parece correto, se pensarmos na ocupação irregular de áreas de proteção a mananciais, florestas urbanas e encostas de morro. Exemplos deste tipo de situação é a fixação de populações em áreas no entorno das represas de Guarapiranga e Billings, em São Paulo; o avanço das favelas cariocas sobre a floresta da Tijuca; e a ocupação de morros em cidades litorâneas do Sudeste do país.

No entanto, apresenta-se o fato sem analisar-lhe as causas. A população pobre simplesmente está lá, afetando o meio ambiente; desmatando, destruindo os recursos hídricos e provocando deslizamentos de terra. Poucas vezes se pergunta por que estas pessoas foram morar nestes lugares afastados, sem qualquer infraestrutura – água tratada, coleta de esgoto, escolas, postos médicos e transporte regular. Omite-se a informação – tão óbvia que por vezes passa despercebida – de que estas pessoas vivem nestes lugares exatamente porque são pobres, sem recursos.

O que aconteceu e ainda acontece em diversos países pobres e em desenvolvimento, com rápida expansão urbana – como a Indonésia, a Índia, Colômbia, Nigéria, Brasil, México – é que a parte mais pobre da população não tem renda suficiente para adquirir uma moradia em bairros dotados de razoáveis condições de infraestrutura. Para piorar esta situação, existe pouca ou nenhuma iniciativa pública de incentivo à construção de moradias para atender estes grupos sociais. Ao mesmo tempo, a gestão dos limitados recursos públicos funciona para atender interesses de grupos com maior poder econômico e político – tanto no governo municipal, mas principalmente no âmbito estadual federal. Todos estes fatores acabam fazendo com que a camada de menor ou nenhuma renda tenha que se estabelecer lá onde a terra custa pouco, ou é gratuita por ser pública, já que abrange áreas de floresta e proteção a mananciais.

Sem condições de oferecer outra opção de moradia a esta populações – por estar com seus recursos comprometidos em grande parte com projetos que atendem grupos de maior força econômica e política – o Estado passa à estratégia do “passar a mão na cabeça”. Oferece a esta população alijada para a periferia uma mínima infraestrutura nas áreas invadidas – para reduzir a pressão social acumulada – e aceita a degradação ambiental como fato consumado, sem recuperá-la.

Assim, por sua má gestão, o poder público (ou seja, aqueles que o conduzem) lesa a sociedade civil de várias maneiras. Não aloca os recursos gerados através de taxas e impostos de uma maneira equitativa, ao contrário. Trabalha para determinados grupos sociais, impossibilitando assim que parte dos cidadãos tenha acesso aos benefícios de uma sociedade moderna e democrática. Por outro lado, força esta mesma parte desfavorecida da população a se deslocar para áreas ainda em relativo equilíbrio ambiental, destruindo-as e prejudicando um patrimônio pertencente à sociedade da qual também fazem parte. Se a pobreza produz degradação ambiental, quem gera a pobreza?

Dica boa do Zézinho Zanzini–Alberto Siufi

O acesso a serviços públicos de qualidade é um direito do cidadão. Por isso, informar os munícipes com precisão sobre os serviços disponíveis é uma das tarefas mais importantes que o poder público pode realizar.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED), lançou o Guia de Encaminhamentos para Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida, um roteiro prático que informa onde a pessoa interessada pode encontrar endereços e meios de contato (telefone e e-mail) de serviços municipais direcionados às pessoas com deficiência na cidade de São Paulo.

Neste Guia de Encaminhamentos, é possível encontrar uma breve descrição, assim como endereços e meios de contato (telefone e e-mail) de serviços municipais direcionados às pessoas com deficiência na cidade de São Paulo.

Para adquirir gratuitamente o exemplar impresso do Guia de Encaminhamentos, basta comparecer à SMPED (Rua Líbero Badaró, 425-32° – Centro) de segunda à sexta (exceto feriados), e retirá-lo com Zézinho Zanzini ou Ricardo Shimosakai . Recomenda-se também, que seja feito um prévio contato telefônico através do número 3913-4001 com Estefanie Ferreira (Recepção) para verificar a disponibilidade do atendimento imediato. Será fornecido tantos exemplares necessarios a cada associação, de acordo com o porte da mesma até a finalização dos mesmos.

Todas as ações realizadas pela SMPED visa a melhora da qualidade de vida do cidadão paulistano, porém é de grande importância também, o apoio e participação de toda a sociedade.
Repassem   esta   informação   a   todas   outras   associações   que   tenham   contato, principalmente aquelas de pequeno porte, que muitas vezes tem dificuldade de acesso a informação. “Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipe e inteligência ganhamos campeonatos.”

Se voce quiser fazer o download do guia, é so clicar no link abaixo:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/pessoa_com_deficiencia/Arte%20Guia%20de%20Encaminhamento_atu.pdf
Caso tenha dificuldade, entre no site da Prefeitura: www.prefeitura.sp.gov.br  e entra na pagina Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, so clicar encima do guia e o mesmo vai direto ao download para ser feito.
Se preferir, estando no centro de São Paulo, venha nos visitar no endereço acima e retire o guia com a gente.
Cordialmente,
Coordenadoria Geral de Politicas Publicas e Relações Institucionais.

Grandes expectativas e pequenos resultados–Ricardo Rose

Se tanto se fala na proteção ao meio ambiente e em uma economia mais eficiente e menos exploradora dos recursos naturais, por que ainda temos tantos problemas? Por que motivos as grandes cidades da maioria dos países pobres e em desenvolvimento continuam com mau gerenciamento de seus resíduos, sem tratamento de parte de seus efluentes e com trânsito caótico? Se existem, aparentemente, tantas leis ambientais como ocorre que a poluição continue tão presente? São perguntas que todos nos fazemos, ainda mais neste período que coincide com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Com a Rio+20 a questão da sustentabilidade parece estar no ar; na internet, nos jornais, na TV e no rádio. Em todos os lugares vemos matérias sobre o quanto o meio ambiente está sendo agredido. O desperdício da água, em um mundo no qual as mudanças climáticas deverão tornar o recurso cada vez mais raro, onde já é escasso. A contaminação do solo por resíduos industriais, comerciais e pelos agrotóxicos. A sobrepesca dos mares; a destruição de biomas para dar lugar à agricultura, às obras de infraestrutura e ao crescimento das cidades. Enfim, uma longa lista de fenômenos, acidentes e desgraças que em parte já nos afligem (sem que o percebamos) e que se tornarão cada vez mais agudos no futuro próximo.

Mas nem tudo parece ser prenúncio de fim de mundo. Ao mesmo tempo em que tomamos conhecimento de todos estes aspectos negativos com relação ao meio ambiente, vemos também fatos positivos. Uso de energias renováveis, menos poluentes, tendo como fonte o sol, o vento, matérias orgânicas em decomposição ou vegetais – como o etanol feito de cana-de-açúcar. Muitas empresas estão valorizando os recursos naturais e matérias primas usadas em seus processos produtivos, aumentando a eficiência da fabricação, das máquinas e dos produtos. Cresce em todo o mundo a conscientização de que precisamos proteger o meio ambiente e as pessoas; a própria realização da Rio+20 é sinal de que indivíduos, empresas e países estão se reunindo para discutir e colocar em prática soluções.

Mas se é assim, porque não existem perspectivas concretas para dar solução à questão da sustentabilidade? Para esta pergunta não existe uma resposta única, já que o assunto é complexo e tem diversos aspectos. Cabe considerar, por exemplo, que um aspecto é a declaração pública de líderes de países, presidentes de empresas e representantes de órgãos públicos e outra coisa são suas ações na prática. As intenções dos países ricos em ajudarem as nações pobres com problemas ambientais e sociais, são repetidas a cada fórum internacional. Grandes empresas gostam de anunciar novas iniciativas ambientais e sociais e a administração pública sempre fala sobre grandes projetos. No final, são poucos os recursos destinados para os fins anunciados – muitas vezes as campanhas publicitárias são mais caras que os projetos.

Assim, cabe bastante ceticismo em relação a tais anúncios, já sabendo que grande parte – por diversas razões, não somente as financeiras – nunca se concretizarão. Cria-se uma grande expectativa de mudança, de avanço, e ficamos assim, esperando muito e tendo que nos contentar com o possível. E la nave va.

Um pouco de Séneca - Alberto Siufi

"Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas devemos correr os riscos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade.
Somente a pessoa que corre riscos é livre!"

Séneca

Rio + 20: é hora de assumir compromissos!–Ricardo Rose

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO + 20, ainda pairam muitas dúvidas sobre o que será debatido no evento e os resultados do encontro para o futuro. Falta um consenso sobre os temas a serem discutidos e negociados entre os participantes. Se, por um lado, o enfoque principal é sobre a economia verde – o uso eficiente de recursos –, as discussões também deverão incluir o debate sobre a questão social. Nesse aspecto parece estar havendo uma queda de braços entre grupos representados principalmente pelos países ricos, favoráveis a limitar as discussões apenas às questões do uso dos recursos, e entre outra corrente, lideradas pelo Brasil, que pretende incluir o tema social nas discussões.

Além deste antagonismo entre as duas visões da economia verde, ainda existem outros fatores influenciando todo o ambiente que precede a RIO + 20. A economia mundial está sendo afetada por problemas financeiros globais que tiveram sua origem na crise dos subprimes americanos em 2008, atingindo especialmente a economia americana e européia, que parecem despencar para uma recessão que levará anos para passar. Nesta situação será difícil fazer com que os países dêem grande importância a um evento que pretende implantar uma economia mais eficiente e menos poluidora, o que implica em investimentos adicionais em tecnologias – coisa que estes países não pretendem fazer pelo menos por enquanto. Antes de pensar em gastos, mesmo que para reduzir os impactos ambientais, a prioridade é sair da crise.

Do lado dos países pobres a situação ainda é mais premente. Segundo o economista Ladislau Dowbor, existe um bilhão de pessoas passando fome no mundo, das quais 180 milhões são crianças. A cada dia morrem cerca de 30 mil pessoas de inanição, ou por problemas causados pela falta de água limpa para consumo. Falta de tratamento de esgoto, contaminação das águas de rios e do lençol freático por resíduos industriais e agrotóxicos, são mais problemas que afetam outras centenas de milhões de pessoas na China, Índia, Paquistão e Brasil, entre outros países em desenvolvimento.

Não há, contudo, como evitar as discussões e chegar a um denominador comum entre os países. Porque se de um lado há uma grave crise econômica afetando sociedades com relativo bem estar, de outro lado os países pobres e em desenvolvimento – supridores de matérias primas e de mão de obra barata – continuam enfrentando as mesmas dificuldades pelas quais passam há décadas. Não é possível que devido a uma crise econômica passageira, provocada essencialmente pela especulação financeira que beneficiou pessoas e empresas dos países ricos, as discussões a serem realizadas na RIO + 20 sejam prejudicadas. Não há mais tempo para que os países mais ricos – incluindo aí o Brasil – se esquivem de assumir compromissos na área ambiental e social.

O Brasil, aliás, tem a pretensão de assumir uma posição de liderança durante os debates que deverão ocorrer. Para isso, no entanto, deveria ser capaz de dar mostras de êxitos alcançados. A pergunta que fica é se depois da votação do Código Florestal, da baixa taxa de saneamento básico, da matança dos botos na Amazônia, do consumo exagerado de agrotóxicos, entre outros fatos, o Brasil ainda tem condições de se tornar exemplo para o mundo, como pretendem alguns.

Cidades, onde a vida acontece–Ricardo Rose

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O desenvolvimento de um país se dá nos municípios, nas cidades. No âmbito municipal o cidadão tem acesso – ou pelo menos deveria ter, já que a Constituição garante o direito – à educação, saúde, transporte público, cultura, lazer, entre os principais benefícios. Estes serviços, que as prefeituras são obrigadas a oferecer a todo e qualquer cidadão brasileiro, são custeados por recursos municipais ou, na falta destes, por verbas estaduais ou federais. O que não pode acontecer é que verbas do caixa municipal, ou recebidas através de repasses estaduais, sejam utilizadas pelo prefeito para investir em obras desnecessárias ou manter uma máquina administrativa sobrecarregada, com excesso de funcionários ou altos salários. Por isso a importância da Lei de Responsabilidade Fiscal, oficialmente Lei Complementar no. 101, que impõe um justificado controle das despesas de estados e municípios, condicionando os gastos à capacidade de arrecadação de tributos.

A Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada no governo de Fernando Henrique Cardoso e representou uma vitória do bom senso e da justiça na administração pública. A partir da aprovação deste marco legal foram introduzidos diversos mecanismos de controle do executivo municipal, estadual e até federal, que podem proporcionar uma aplicação mais democrática das verbas públicas. Estes recursos, parece óbvio dizer, não são públicos porque são geridos pelo setor público. São públicos porque pertencem a todos nós, o povo. Foram gerados por nós, pelos nossos impostos, e devem ser investidos em nosso benefício. Toda vez que um administrador está utilizando dinheiro público de maneira indevida – em casos extremos até se apossando destes recursos – ele está cometendo um crime contra o país. Em alguns lugares, criminosos deste tipo são trancafiados por longos anos e condenados a devolver tudo que subtraíram – quando não acontece coisa pior, como na China.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) realizou recentemente uma pesquisa, mostrando a situação financeira das 5.266 cidades brasileiras. O resultado demonstra que apesar de um lento progresso – resultado principalmente da Lei de Responsabilidade Fiscal – ainda duas em cada três cidades brasileiras (63,5%) vivem em situação financeira difícil ou crítica. A pesquisa levou em consideração cinco critérios principais: a) a capacidade de arrecadação do município; b) os gastos com pessoal; c) capacidade de fazer investimentos; d) o custo da dívida do município em longo prazo e) a liquidez. A pesquisa constatou que gastos com pessoal – funcionários públicos diretos e indiretos – e a baixa arrecadação dos municípios, ainda são os maiores problemas. No cômputo geral, as cidades brasileiras se dividem da seguinte maneira: 94 (1,8%) estão com um conceito excelente em gestão; 1.822 (34,8%) têm gestão classificada como boa; 2.302 (43,7%) estão enfrentando dificuldades; e 1.048 (19,9%) têm nível de gestão crítico.

Os cidadãos de cada cidade brasileira sabem ou deveriam saber como o prefeito está gerenciando seu município. A promessa de asfalto, esgoto, da creche, e da nova escola profissionalizante são pendências que devem ser cobradas. A chegada das eleições municipais é nova oportunidade de se informar sobre o que está acontecendo no município e tentar melhorar a própria vida através do voto consciente.

Os índios e nós, os selvagens!–Ricardo Rose

Yamiaura, de Elon Brasil, 2002.

No Brasil existe uma longa tradição de tirar vantagens dos índios. Quando os portugueses por aqui chegaram, a população indígena, segundo alguns cálculos, deveria ser de cinco milhões de pessoas. No entanto a escravidão, as doenças contra as quais os índios não tinham anticorpos (gripes, varíola, etc.), e o sistemático assassinato de tribos que se opunham à dominação européia, acabou reduzindo esta população.

Durante todo o período colonial e imperial principalmente, foram grandes as barbaridades praticadas contra a população indígena, sempre com o objetivo de se apoderar de seu território.

Muitos latifúndios ainda hoje existentes ou outros que deram origem a grandes fortunas foram construídos com o sangue e a vida de milhares de indígenas. As memórias destas atrocidades estão esquecidas, enterradas com suas vítimas. A história acabou sendo escrita para e por aqueles que venceram. Diga-se, a bem da verdade, no entanto, que este tipo de tratamento dos povos indígenas não é absolutamente exclusividade da sociedade brasileira; do Canadá à Argentina estes povos foram exterminados para dar lugar ao branco agricultor, pecuarista, garimpeiro e colonizador.

Na década de 1960 e 1970 a expansão da fronteira agrícola, a exploração de minerais e a construção de estradas contribuíram para diminuir mais ainda a população silvícola, que no início da década de 1980 havia caído para apenas 280 mil indivíduos. Com a introdução, em passado recente, de políticas de proteção ao índio e da criação de reservas por todo o país – com maior concentração da região Norte – o número de nascimentos aumentou e a população indígena vem lentamente se recuperando; atualmente em torno dos 370 mil indivíduos.

Todavia, a situação dos povos indígenas ainda está longe de ser fácil. Limitados a suas reservas, as tribos indígenas são constantemente alvos de curiosos, missionários e todo tipo de intrusos, que tentam tirar algum proveito destes povos. As florestas de suas reservas continuam sendo exploradas por madeireiras, os solos destruídos por garimpeiros e muitas áreas ainda são incorporadas por fazendeiros. Fontes de água situadas foras dos limites das reservas são poluídas por excesso de agrotóxicos, utilizados nas plantações do entorno. A pesca torna-se cada vez mais reduzida, já que o nível da água dos rios ficou mais baixo com o assoreamento, causado pela erosão devida ao desmatamento. A grande variedade de espécies de peixes vai desaparecendo junto com a destruição dos ecossistemas aquáticos pelos agrotóxicos, carregados pela chuva, das plantações para os rios.

Com orçamento limitado, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Ongs como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e o Instituto Sociambiental (ISA), entre outros, procuram apoiar e orientar os povos indígenas em sua luta pela sobrevivência. Mesmo assim, muitas tribos sofrem com a falta de território (a área de sobrevivência de que dispõem não é suficiente para plantar, caçar e pescar); não dispõem de assistência médica regular, principalmente para as crianças; e estão perdendo sua cultura: ocorrem vários suicídios entre jovens índios, por causa da perda dos seus valores ancestrais.

Enquanto culturas indígenas que levaram milhares de anos para se formar desaparecem definitivamente, ficamos nós preocupados com a próxima reunião do Copom. E ainda nos consideramos civilizados!

Impasses do Código Florestal–Ricardo Rose

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Depois das alterações no Código Florestal apresentadas pelo senado, o projeto deve voltar para votação na câmara dos deputados. O relator do projeto, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), já declarou que vai acatar quase integralmente a versão desenvolvida pelo senado. Ainda permanecem como principais pontos polêmicos a questão das áreas de proteção permanente (APPs) nas margens dos rios e a recomposição dos desmatamentos destas áreas, ocorridos até julho de 2008.

A discussão parece ter chegado a um impasse entre grupos preservacionistas - ambientalistas, cientistas, segmentos da sociedade civil – e representantes da bancada ruralista e seus aliados. Apoiando a manutenção das áreas das APPs de acordo com o Código Florestal original e insistindo na recomposição das áreas desflorestadas, está a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciência (ABC). Juntas, as entidades lançaram o documento “O Código Floresta e a ciência – contribuições para um diálogo”. O estudo apresenta uma série de sugestões e traz subsídios para aprofundar o debate sobre a alteração do Código, tendo sido entregue a deputados e senadores, para que se preparassem para as discussões.

A preocupação dos cientistas é grande. Pesquisadores do programa Biota-Fapesp, por exemplo, afirmam que o país estaria “arriscado a sofrer seu mais grave retrocesso ambiental em meio século, com conseqüências críticas irreversíveis que irão além das fronteiras nacionais”, segundo a revista Scientific American Brasil de junho de 2011. Caso aprovadas as alterações sugeridas na nova redação do código, não haverá obrigatoriedade da recomposição de área desflorestada ilegalmente desde 1965 – ocorreria uma anistia que, como sempre, beneficiaria os infratores. Esta redução da área de vegetação original, segundo os cientistas, tem como conseqüência o aumento das emissões de dióxido de carbono e a redução do habitat para espécies nativas vegetais e animais. Com isso, estima-se uma perda de até 100 mil espécies, que desaparecerão para sempre; muitas delas desconhecidas pelo homem.

Outra crítica da SBPC e da ABC ao processo de alteração da lei florestal é que as instituições nunca foram consultadas ou chamadas para participarem das discussões. Foi só durante os debates mais recentes que suas opiniões foram, às vezes, levadas em consideração. Com a ausência dos cientistas, pode ter faltado fundamentação científica às discussões, que assim se tornaram mais ideológicas do que científicas, fazendo com que acabassem prevalecendo os interesses de grupos com mais força política. A história nos ensina que é perigoso prescindir da palavra da ciência em discussões tão importantes e nas quais as ciências – biologia, geografia, geologia, meteorologia, agronomia, e tantas outras – têm tanto a dizer.

A discussão e votação final do Código Florestal serão provavelmente postergadas para depois da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO + 20, que ocorrerá em final de junho deste ano. Com o recesso parlamentar, os debates deverão ser retomados somente em agosto, evitando assim aprovar às vésperas do evento um Código Florestal que colocaria em cheque muito daquilo que o Brasil pretende defender nesta importante conferência.

Espécies desaparecem, e nós?–Ricardo Rose

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Nas últimas semanas chamou atenção uma pesquisa realizada pela universidade de Plymouth, da Inglaterra, mostrando que os oceanos estão ficando cada vez mais ácidos. A acidez gradual das águas marinhas ocorre, segundo os cientistas, devido a quantidades cada vez maiores de dióxido de carbono (CO²) contidas na atmosfera, que se diluem nos mares. Este gás, encontrado em quantidades reduzidas na atmosfera, é em grande parcela resultante da queima de combustíveis pelo setor industrial, de transportes e da geração de energia (principalmente nos países do Norte). A previsão é que esta gradual acidificação das águas poderá causar uma mortandade de até 30% das espécies marinhas. O processo, evidentemente, não ocorrerá em alguns anos, mas aos poucos, ao longo de um ou dois séculos. O cientista britânico Jason Hall-Spencer, autor da pesquisa, comenta que no passado geológico o planeta passou por processo parecido. Há 55 milhões de anos os oceanos terrestres sofreram acidificação semelhante, mudança que levou 10 mil anos para atingir seu ponto máximo. Depois disso, o grande ecossistema da Terra reverteu a alta concentração de CO² nas águas, precisando para isso outros 125 mil anos.

Outro fato que despertou a atenção foi a reportagem do jornal O Estado de São Paulo, reportando que a pesca de peixe no litoral do estado está caindo a cada ano. Segundo pescadores artesanais da região de Camburí, litoral norte de São Paulo, a quantidade de peixe capturada vem caindo há pelo menos uma década. A percepção dos pescadores é confirmada pelos dados oficiais: segundo o Instituto de Pesca de São Paulo, o volume de pescado capturado no Estado em 2011 foi de 20,5 mil toneladas; 20% a menos que há dez anos e 60% a menos que há 20 anos. A culpa, segundo os pescadores, é dos grandes barcos que operam em águas mais profundas, com compridas redes e radares com capacidade de localizar os cardumes a grandes distâncias. Com isso assiste-se ao colapso de diversos tipos de pescado. A sardinha-verdadeira (sardinella brasiliensis), por exemplo, já foi um dos principais produtos da pesca nas regiões Sul e Sudeste. Na década de 1970 a produção anual deste peixe era de mais de 200 mil toneladas, caindo para 32 mil na década de 1990 e chegando a 17 mil toneladas anuais em 2000. Depois da instituição do período de defeso, quando o peixe está em fase de reprodução e sua pesca é proibida por lei, a produção subiu e estacionou em torno das 80 mil toneladas anuais.

Os dois fatos muito pouco tem a ver um com o outro, pelo menos até agora. No entanto, são dois indícios de como, através de nossas atividades produtivas, estamos reduzindo e gradualmente destruindo o estoque de recursos naturais. Por um lado, a crescente acidificação das águas destruirá a população dos corais, que funcionam como habitat e local de alimentação e procriação para muitas espécies marinhas: peixes, crustáceos, tartarugas e moluscos. Por outro lado, a pesca intensiva, destruindo indivíduos menores as fêmeas em fase de reprodução, reduzirá cada vez mais as possibilidades de sobrevivência das espécies destes peixes.

Ao final, resta a pergunta sobre que tipo de futuro antevemos para a humanidade, já que a Terra cuida de si mesma, não precisa de nossa intervenção. Ferida, se recupera; espécies vivas vêm e vão e no final a vida permanece; com ou sem nós.

Progresso pra quem? - Ricardo Rose


Todo progresso tem um custo, frase que lemos e escutamos frequentemente. Esta afirmação quase sempre é de autoria daqueles que tiram proveito do tal progresso, e não dos que arcarão com o seu custo. O que parece implícito nesta afirmação é queprogressosempre significamelhoria para todos” – quando geralmente não é. Propaga-se a idéia de que fatos inevitáveisque criarão mudanças. Estas provocarão necessariamente uma melhoria: oprogresso; que, no entanto, custará um sacrifício. Cabe questionar o que é o progresso em determinado contexto, a quem beneficiará, e quem pagará por ele.


A história de todas as sociedades está cheia destas falácias. Principalmente, quando a idéia deprogressoaparece associada aos projetos de grupos dominantes, que sutilmente convencem o restante da sociedade de sua necessidade. A construção de usinas nucleares foi sinônima de progresso, em países que hoje planejam a substituição deste tipo de energia. A troca do bonde elétrico pelo ônibus a diesel também foi sinal de melhoria nos transportes públicos em São Paulo, assim como a derrubada da floresta na região amazônica também representou o avanço da civilização, do progresso, nos anos 1970. Ninguém, munido das informações de que dispomos atualmente, classificaria estes fatos como indício de progresso. Mas, como dissemos acima, a introdução destas tecnologiasoprogressoà épocaalém de ser algo novo, também atendia aos interesses de grupos de poder que se beneficiaram com a mudança tecnológica. A conta, como sempre, ficou a cargo da sociedade civile nesta os pobres são os que sempre pagam a maior parcela.


Fatos semelhantes estão ocorrendo neste momento, em vários pontos do Brasil. Os estádios da Copa 2014, a transposição do Rio São Francisco, e vários outros projetos; todos nos trarão progresso, dizem. Neste contexto a Folha de São Paulo publicou artigo sobre o desaparecimento de peixes no Rio Madeira, onde estão localizadas as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, esta última ainda em construção. O rio Madeira é o 17º maior rio dentre todos os que existem no planeta Terra. Sua imensa diversidade biológica, no entanto, foi afetada com as obras de engenharia. Vários tipos de peixesdenominadas genericamente debagres” – geravam 29 mil toneladas de pescado por ano. Estas espécies desapareceram, segundo o relato de pescadores aos jornalistas do jornal, que visitaram a região. O fenômeno havia sido previsto por cientistas, antes do início das obras. O fato se deve principalmente à diminuição da correnteza no lago formado pela barragem, o que deixa o fundo sem oxigenação, impedindo a sobrevivência de determinadas espécies de peixes abundantes na região.


O jornalista Leão Serva, em artigo publicado sobre o assunto no blogObservador Político(http://www.observadorpolitico.org.br/observadores/leaoserva/), relata que outras obras do mesmo tipoalém das que estão em andamento no Rio Xingudeverão ser construídas na Amazônia durante os próximos anos, causando impactos semelhantes, previstos pelos cientistas desde 2006. Se este é o começo do custo que a população da região pagará pelo supostoprogresso, como será o futuro? Ecossistemas degradados, desaparecimento de espécies, problemas sociais... Diziam os romanos: cui bono, quem se beneficia?