O automóvel e o espaço urbano – Ricardo Rose

Os veículos automotores têm uma influência muito grande no desenvolvimento das cidades. Além de provocarem alterações no clima e na temperatura das metrópoles, são responsáveis por um processo de urbanização que prioriza a mobilidade do automóvel e não a das pessoas. Assim, grandes aglomerados urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e outras regiões metropolitanas, sofreram grandes mutações em função dos veículos.

Atualmente, as ruas servem essencialmente à circulação dos carros, ocupando muito espaço e transportando poucas pessoas. O pedestre foi expulso para as estreitas calçadas; estas muitas vezes em desnível, esburacadas e transformadas em depósito de tudo aquilo que não pode ficar na rua – material de construção, entulho, lixo e veículos menores. Na cidade, as ruas se transformaram em ligação entre um ponto e outro; percorre-se a maioria das ruas e avenidas como se estivesse passando por uma autoestrada, sem qualquer tipo de atrativo. Deslocamo-nos do ponto A para o ponto B, mas não temos nenhum interesse pelo caminho que percorremos. As ruas são o que se denomina de “as artérias de circulação” da cidade, por onde se deslocam pessoas e produtos, sempre visando chegar a um outro lugar. Já se foi a época em que as avenidas e ruas eram locais de passeio, de convivência, de – mesmo que curta – permanência das pessoas.

Com este reordenamento urbano formam-se verdadeiros guetos e fortalezas, representados pelos condomínios fechados e apartamentos, com sistemas de seguranças eletrônicos e equipes de vigilantes. Parte dos habitantes das cidades, por sua vez, desloca-se de uma base – a casa, o emprego, o shopping-center, o restaurante – para outro ponto da cidade, sempre através do automóvel, já que nas megacidades as atividades são separadas por grandes distâncias. A inexistência de um sistema de transporte público amplo e eficiente faz com que aqueles que podem se movimentem com seu próprio sistema de transporte; o automóvel.

Assim, dois fatores principais – o crescimento rápido e desordenado das cidades e a priorização do transporte individual através do automóvel –, fizeram com que muitas cidades em todo o mundo se transformassem em arquipélagos, formados por “ilhas” ou centros de atividades, localizados em diferentes locais da metrópole. Existem os centros ou “ilhas” de compras, nos shopping-centers ou regiões que concentram as lojas; as “ilhas” residenciais, onde se localizam os condomínios; as “ilhas” ou bairros empresariais, sede dos escritórios e das indústrias. Em sua vida diária, os habitantes precisam se deslocar (ou navegar) entre estas diversas “ilhas”.

Existem cidades de grande porte, como Londres, New York e Berlim, que desenvolveram um sistema público de transporte que atende a população, permitindo que esta não dependa tanto do automóvel. No Brasil, apenas nos últimos anos se começou a perceber que a forma de mobilidade do cidadão tem uma forte influência na urbanização da cidade. Ou seja, a maneira de como a população urbana se desloca para suas atividades diárias deixa uma marca na aparência da cidade. No caso das grandes metrópoles, o automóvel praticamente modelou a paisagem nos últimos cinqüenta anos.

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