30 coisas que você deve parar de fazer a si mesmo - Alberto Siufi

Marc e Angel, dois escritores passionais, life-hackers e “admiradores do espírito humano”, chegaram a uma lista de 30 coisas que você parar de fazer a si mesmo. Se você gosta da listagem deles, visite o site deles e se inscreva em sua surpreendente lista de novidades.



#1. Pare de perder tempo com as pessoas erradas. – A vida é muito curta para perder tempo com pessoas que sugam a sua alegria para fora de você. Se alguém quer você em sua vida, eles vão criar espaço para você. Você não deveria ter que lutar por um lugar. Nunca, jamais insista em aparecer diante de alguém que subestima o seu valor. E lembre-se, seus verdadeiros amigos não são as pessoas que estão ao seu lado quando você está vivendo seus melhores dias, mas sim aqueles que permanecem mesmo nos piores momentos.

#2. Pare de fugir dos seus problemas. – Encare-os de frente. Não, não vai ser fácil. Não há ninguém no mundo capaz de sair ileso de cada pancada que leve. Não é esperado que estejamos aptos a imediatamente resolver quaisquer problemas.  Simplesmente não somos feitos desta forma. Na verdade, somos feitos para nos irritarmos, nos entristecermos, nos machucarmos, tropeçarmos e cairmos. E é por isto ser a razão mesma de viver – encarar problemas, aprender, se adaptar, e resolvê-los ao longo do tempo. Isso é o que efetivamente nos molda na pessoa que nos tornamos.

#3. Pare de mentir para si mesmo. – Você pode mentir para qualquer outra pessoa no mundo, mas você não consegue mentir para si mesmo. Nossas vidas melhoram apenas quando arriscamos encarar as oportunidades, e a primeira e mais dificil oportunidade que podemos encarar é sermos honestos conosco mesmos.

#4. Pare de colocar as suas necessidades em segundo plano. – A coisa mais dolorosa é perder-se de si mesmo no processo de “amar” alguém demais, e esquecer de que você é especial, também. Sim, ajude aos outros; Mas ajude-se também. Se existe um momento para correr atrás de sua paixão e fazer algo que realmente importa para você mesmo,este momento é agora.

#5. Pare de tentar ser alguém que você não é.  – Um dos maiores desafios na vida é ser você mesmo em um mundo que tenta fazê-lo igual a todos os outros. Alguém sempre vai ser mais bonito, alguém sempre será mais esperto, alguém sempre será mais jovem, mas eles jamais serão você. Não mude para que os outros passem a gostar de você. Seja você mesmo e as pessoas certas vão amar quem você é de verdade.

#6. Pare de se apegar ao passado. - Você não pode iniciar o próximo capítulo da sua vida se você continua relendo o anterior.

#7. Pare de ter medo de cometer erros. – Fazer algo e falhar é ao menos dez vezes mais produtivo do que não fazer nada. Todo sucesso deixa uma trilha de falhas atrás de si, e cada falha é um passo rumo ao sucesso. Você acaba se arrependendo muito mais das coisas que NÃO fez, do que daquelas que fez.

#8. Pare de se reprender por velhos tropeços. - Nós podemos amar a pessoa errada e chorar sobre as coisas erradas, mas não importa o quão erradas as coisas se tornem, uma coisa é certa, os enganos nos ajudam encontrar a pessoa e as coisas que são certas para nós. Todos cometemos enganos, temos tropeços e mesmo nos arrependemos das coisas em nosso passado. Mas você não é seus enganos, nem seus tropeços, e você está aqui AGORA com o poder de definir o seu dia e o seu futuro. Toda e cada coisa que aconteceu na sua vida está te preparando para um momento que ainda virá.

#9. Pare de tentar comprar felicidade. - Muitas das coisas que desejamos são caras. Mas a verdade é que, as coisas que realmente nos satisfazem, são totalmente grátis – amor, risadas e trabalhar naquilo que nos apaixona.

#10. Pare de procurar a felicidade exclusivamente nos outros. – Se você não está feliz com quem você é por dentro, você tampouco será feliz em um relacionamento de longo prazo com quem quer que seja. Você precisa criar estabilidade na própria vida em primeiro lugar, antes que possa compartilhá-la com mais alguém.

#11. Pare de ficar ocioso. - Não pense demais ou você criará um problema que nem existia, para começar. Avalie as situações e tome ações decisivas. Você não pode mudar o que se recusa a encarar. Progredir envolve assumir riscos. Ponto! Vocẽ não pode andar até a segunda base e manter o seu pé ainda na primeira.

#12. Pare de pensar que você não está pronto. - Ninguém realmente se sente 100% pronto quando uma oportunidade aparece. E isto acontece porque as mais grandiosas oportunidades na vida nos forçam a crescer além das nossas zonas de conforto, o que significa que não estaremos totalmente confortáveis, no início.

#13. Pare de se envolver em relacionamentos pelas razões erradas. – Relacionamentos devem ser escolhidos com sabedoria. É melhor estar só do que em má companhia. Não há necessidade de pressa. Se alguma coisa deve ser, ela acontecerá – no seu tempo certo, com a pessoa certa e pela melhor das razões. Se apaixone quando estiver pronto, não quando estiver solitário.

#14. Pare de rejeitar novas relações por que as antigas não funcionaram. – Na vida você perceberá que existe um propósito em conhecer cada pessoa que você conhece. Alguns testarão você, outros te usarão, e outros te ensinarão. Mas, o que é mais importante, alguns despertarão o que há de melhor em você.

#15. Pare de tentar competir com todo mundo. - Não se preocupe com o que os outros fazem melhor do que você. Concentre-se em bater os seus próprios recordes todos os dias. O sucesso é uma batalha travada apenas entre VOCÊ e VOCÊ MESMO.

#16. Pare de ter inveja dos outros. – A inveja é a arte de contar as bençãos alheias, ao invés das próprias. Se pergunte o seguinte: “O que é que eu tenho que todas as outras pessoas desejam?”

#17. Pare de reclamar e sentir pena de si mesmo. – As “bolas com efeito” da vida são jogadas por um motivo – para mudar o seu caminho numa direção que se destina a você. Você pode não ver ou entender tudo no momento em que isto acontece, e pode ser difícil. Mas pense naquelas “bolas curvas” negativas que foram jogadas para você no passado. Você frequentemente perceberá que no final elas te levaram a melhores lugares, pessoas, estados de espírito, ou situações. Então sorria! Deixe todos saberem que hoje você é mais forte do que era ontém, e então você será.

#18. Pare de guardar rancor. – Não viva a sua vida com ódio no coração. Você acabará machucando a si próprio muito mais do que as pessoas que você odeia. Perdoar não é dizer “o que você fez de errado comigo não tem importância”, é dizer “eu não vou permitir que o que você fez comigo seja a ruína eterna da minha felicidade”. Perdoar é a resposta… desapegue, encontre paz e liberte-se! E lembre-se, o perdão não é apenas para as outras pessoas, é para si mesmo também. E você deve perdoar-se, seguir em frente e tentar fazer melhor na próxima vez.

#19. Pare de deixar os outros te rebaixarem ao nível deles. – Recuse-se em baixar os seus padrões de qualidade para acomodar aqueles que se recusam a elevar os deles.

#20. Pare de perder tempo se explicando aos outros. – De toda forma, seus amigos não precisam e seus inimigos não vão acreditar. Apenas faça o que seu coração aponta como o caminho certo.

#21. Pare de fazer as mesmas coisas de novo e de novo sem uma pausa. - A hora certa de respirar profundamente é quando você não tem tempo pra isso. Se você continuar insistindo no que está fazendo, você vai continuar obtendo o mesmo resultado. Às vezes, você precisa se distanciar um pouco para ver as coisas mais claramente.

#22. Pare de negligenciar a beleza dos pequenos momentos. – Aproveite  as pequenas coisas, pois um dia você pode olhar para trás e descobrir que elas eram as grandes coisas. A melhor porção da sua vida será composta dos pequenos e inomináveis momentos que você passa sorrindo junto de alguém  importante pra você.

#23. Pare de tentar alcançar a perfeição. – O mundo real não recompensa o perfeccionismo, ele recompensa as pessoas que conseguem fazer as coisas.

#24. Pare de seguir o caminho do menor esforço. – A vida não é fácil, especialmente quando você planeja alcançar algo de valor. Não pegue o caminho mais fácil. Faça algo extraordinário.

#25. Pare de agir como se tudo estivesse bem, quando não está. – É perfeitamente normal desmoronar por um breve período. Você nem sempre precisa fingir que é o mais forte, nem constantemente tentar provar que tudo está indo bem. Você tampouco deveria se preocupar com o que os outros pensam – chore se precisar – é saudável colocar suas lágrimas para fora. Quanto mais cedo você o fizer, mais cedo você estará apto a sorrir genuinamente de novo.

#26. Pare de culpar os outros pelos seus próprios problemas. - A dimensão com que você conseguirá realizar seus sonhos depende da dimensão com que você assume responsabilidade pela própria vida. Quando você culpa os outros pelo que você está passando, você nega responsabilidade – você dá aos outros poder sobre aquela parte da sua vida.

#27. Pare de tentar ser tudo para todos. – Alcançar isto é impossível, e tentar apenas te levará ao esgotamento. Mas fazer uma pessoa sorrir PODE mudar o mundo. Talvez não todo o mundo, mas o mundo dela. Então estreite o seu foco.

#28. Pare de se preocupar demais. – A preocupação não removerá os obstáculos do amanhã, mas removerá as delícias do dia de hoje. Um modo de verificar se algo vale o esforço de super ponderar a respeito é se fazer a seguinte pergunta: “Isso importará daqui a um ano? Três anos? Cinco anos?”. Se não, então não é nada que valha o esforço de preocupar-se.

#29. Pare de focar naquilo que você não quer que aconteça. – Foque naquilo que você querque aconteça. Pensamento positivo está na dianteira de todo grande história de sucesso. Se você acordar toda manhã com o pensamento de que algo maravilhoso acontecerá na sua vida hoje, e você prestar muita atenção, você com frequência descobriá que tem razão.

#30. Pare de ser ingrato. – Não importa o quão bom ou o quão ruins as coisas  estejam, acorde todo dia grato pela sua vida. Alguém em algum lugar está desesperadamente lutando pela própria vida. Ao invés de pensar naquilo que falta, tente pensar em tudo aquilo que você já tem e que quase todo mundo sente falta.

marcandangel.com

O Mal Banalizado na Polícia Brasileira - Júlio Gonçalves


 
O processo de redemocratização no Brasil, a partir da década de 80, provocou nas instituições públicas, em especial nas corporações policiais, transformações decorrentes do questionamento da sociedade brasileira sobre a real função pública que devem assumir diante do Estado Democrático de Direito. 
Já nos anos 90, as corporações policiais, cujas práticas históricas foram sedimentadas pelo período ditatorial, começaram um processo de rompimento do modelo, histórico do sistema policial, em decorrência das transformações em andamento na sociedade brasileira, em especial o crescimento das práticas democráticas e o fortalecimento da cidadania. 
Há um descompasso entre as mudanças sociais e políticas, e como a prática policial não acompanha tais mudanças, a conseqüência é a crise nas polícias brasileiras, que não é uma crise de dentro da corporação para fora, mas sim o inverso, da relação sociedade-Estado, em consequência da falta de sintonia entre o avanço social e a prática policial, ampliado pela ausência de um processo dinâmico e otimizado que faça funcionar um sistema de segurança pública para a nova realidade brasileira, que não aquela de tempos remotos. 
Na verdade, há uma reação da sociedade brasileira que indica a necessária mudança no modelo atual, em que a Justiça é morosa, a polícia atual é enfraquecida, fracionada, autoritária e afastada das comunidades, despreparada e obsoleta na sua estrutura, não conseguindo responder às exigências impostas pelo contexto social atual. 
No atual modelo, a força tem sido o primeiro e quase único instrumento de intervenção, sendo usada frequentemente da forma não profissional, desqualificada e inconsequente, não poucas vezes à margem da legalidade. Urge aqui o perigo da violência, movimento dentro de uma estrutura não extremista de objetivos, que será sempre os meios dominando os fins. Um exemplo dessa estrutura são os autos de resistências seguidas de morte, os quais supostamente se pressupõem a reação do suspeito no ato de sua prisão. Arendt (1994, p.45) nos alerta que “(...) A prática da violência como toda ação, transforma o mundo, mas a transformação mais provável é em um mundo mais violento”.   
Distinção entre poder e violência 
Para nossa analise é imprescindível destacar a diferença do pensamento arendtiano a respeito do poder, do vigor, da força, da autoridade e da violência, a fim de demonstrar que estes não são meros meios em função dos quais o homem domina o homem. 
Dessa forma, define poder da seguinte forma: 
“O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está no poder, na realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu nome” (ARENDT, 1994, p. 36). 
O poder que está na mão do Estado, é de fato a essência de todo governo, mas não a violência. O poder não é propriedade de um indivíduo, pois pertence a um grupo e existe apenas enquanto este grupo permanece unido. Na medida em que o grupo se desfaz, o poder também desaparece. Assim, estar no poder significa "estar autorizado" pelo grupo, pela cidade, pela nação, a falar em seu nome. 
Por sua vez, o vigor estaria ligado às características individuais (e não políticas), isto é, seria uma "propriedade inerente a um objeto ou pessoa e pertence ao seu caráter, podendo provar-se a si mesmo na relação com outras coisas ou pessoas, mas sendo essencialmente diferente delas". Nesse sentido, por ser essencialmente particular, o vigor usado pelos agentes encarregados da aplicação da lei, pode ser sempre uma ameaça ao poder. Então, "vigor" se diferencia radicalmente do conceito de poder. Pois, o poder está ligado à capacidade de agir em conjunto, enquanto o vigor é algo no singular, como no caso do vigor físico de um indivíduo. 
A autoridade é definida por Arendt como o reconhecimento a alguém por parte de um grupo a quem se pede obediência, não sendo uma relação igualitária, mas hierarquizada, posto que, quem obedece, o faz por "respeito". Portanto, a autoridade é uma relação de mando e obediência, isto é, não se traduz em violência, pois conservar a autoridade requer respeito pela pessoa ou pelo cargo. O que ocorre hoje é papel inverso nos órgãos policiais, a autoridade não é obedecida gerando a violência como símbolo de respeito. 
A violência foi definida por Arendt como algo de caráter instrumental, pois seria o ato que opera, no caso das relações sociais, sobre o corpo físico do oponente, matando-o, violando-o. Arendt (1994) ainda ressalta que frequentemente pode ocorrer de esses fenômenos distintos se entrecruzarem na realidade concreta, isto é, do poder aparecer sob a forma de autoridade; ou a combinação entre poder e violência; em que pese o fato de que não representam o mesmo. 
A violência pode ser justificável "porque traz queixas à atenção pública", porque "denuncia uma ausência de diálogo e, em última instância, reclama a falta de cidadania", mas ela nunca será legítima. De fato, uma das mais óbvias distinções entre poder e violência é a de que o poder sempre depende dos números, enquanto a violência, até certo ponto, pode operar sem eles, porque se assenta em implementos. (...) A forma extrema de poder é o Todos contra Um, a forma extrema de violência é o Um contra Todos. E esta última nunca é possível sem instrumentos. (ARENDT, 1994, p. 35) 
Arendt (1994) diferencia o poder da violência, afirmando que o poder é a essência de todo governo, mas não a violência. Esta é por natureza instrumental, e necessidade de orientação e da justificação pelo fim que almeja. O poder é um fim em si mesmo, não precisa de justificação, pois é inerente à própria existência das comunidades políticas. O que o poder precisa é de legitimidade e a forma mais simples de legitimação é o voto. A violência pode ser justificável "porque traz queixas à atenção pública", porque "denuncia uma ausência de diálogo e, em última instância, reclama a falta de cidadania", mas nunca será legítima. 
“O poder é de fato a essência de todo governo, mas não a violência. A violência é por natureza instrumental; como todos os meios, ela sempre depende da orientação e da justificação pelo fim que almeja. E aquilo que necessita de justificação por outra coisa não pode ser a essência de nada”. (ARENDT, 1994, p. 41) 
Aos que acreditam que o poder e violência unem-se em virtude da compreensão do governo como a dominação do homem pelo homem, contudo, a uma nítida demonstração que a violência pode destruir o poder, pois do “cano de uma arma jamais sairá o poder”, haja vista que o domínio pela pura violência surge do poder perdido. 
Desta forma, a contradição se faz presente, “poder e violência são opostos; onde um reina absoluto, o outro está ausente”. A violência como prática policial aparece como risco ao poder, deixada a seu próprio curso será conduzida a desaparição do poder. Na perspectiva arendtiana a violência não se basta a si, ela sozinha não leva a nada, e por ser de natureza instrumental, necessita de justificativa. Entretanto, a violência possui um sentido quando se trata de legítima defesa, termo muito usado para justificar atos arbitrários dos policiais, porque o perigo aqui não é apenas claro, mas também presente no nosso cotidiano, neste caso, usando os fins para justificar os meios imediatamente. 
Para Arendt (1994) o poder, o qual é inerente a qualquer comunidade política resulta da capacidade humana de agir em conjunto, o que, por sua vez, requer um consenso de muitos quanto a um curso de ação. É a desintegração do poder que enseja a violência, pois quando os comandos não são mais generalizadamente acatados, por falta de consenso e da opinião favorável de muitos, seja de modo explícito ou implícito, os meios violentos não tem utilidade. 
A violência destrutiva do poder está, no entanto, muito presente em nosso cotidiano, vivenciado pela prática policial. Violência que segundo Arendt acaba sendo glorificada pela frustração da faculdade de agir, que tem suas raízes na burocratização da vida pública, na vulnerabilidade dos grandes sistemas e na monopolização do poder, que acaba com as autênticas fontes criativas dos homens.
 O decréscimo do poder pela carência da capacidade de agir em conjunto é um convite à violência. Ela observa ainda que aqueles que perdem essa capacidade, sentindo-as escapar pelas mãos, dificilmente resistem à tentação de substituir o poder que está desaparecendo pela violência. 
Temos então, a ineficiência generalizada da polícia, que tem sido acompanhada pelo acréscimo da brutalidade, a qual verificamos em números divulgados pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, o qual aponta que estados como São Paulo e Rio de Janeiro no período de 1980 à 2006 teve cerca de 8423 pessoas mortas por intervenção policial. Logo, a violência perde sentido quando se torna uma estratégia erga omnes, ou seja, quando se racionaliza e se converte em princípio de ação policial.  
A banalização do mal 
Hannah Arendt define que o “mal banal” nasce da incapacidade do indivíduo para pensar. Entretanto, podemos perguntar se o mal não pode se originar da falta de julgamento. Ou seja, o indivíduo comete atos maus porque não averigua os dados, não os avalia, não os reflete. Hipoteticamente, o “mal banal” ocorre devido à ausência do “juízo reflexivo” e da “mentalidade alargada” kantiana, a qual considera as possíveis opiniões dos outros, o espírito humano não fica fechado em si mesmo, mas se abre a alteridade. 
A questão sobre o mal, a qual Arendt levantou, passou a gerar novas reflexões, em especial porque ela definiu esse mal como “político”. Nesse sentido, a atitude do burocrata aplicador da lei, não pode ser “radical” no sentido kantiano, pois, segundo Arendt (1993, p. 134), “o mal não se enraíza numa região mais profunda do ser, não tem estatuto ontológico, pois não revela uma motivação diabólica – a vontade de querer o mal pelo mal.” 
Podemos perceber, pela afirmação de Arendt, que ela buscou compreender o que levara o funcionário Adolf Eichmann, funcionário nazista encarregado do transporte dos prisioneiros para os campos de concentração e de extermínio, a agir de maneira que os seus atos levavam pessoas humanas para os campos, onde ou eram privadas dos atributos de humanidade e de cidadania, ou eram prontamente exterminadas, fazendo-o tornar-se um criminoso. 
Em outros termos, funcionário Eichmann nada tinha de defeitos morais, inclinações ideológicas, rancores raciais ou problemas de inteligência, por isso Arendt entendeu que ele possuía uma “simples” ausência de pensamento (cf. Arendt, 1991, p. 6), o que permitia que suas ações fossem más, pois apesar dele afirmar que apenas “cumprira ordens”, ele não possuía qualquer patologia mental, sequer qualquer distúrbio de caráter. Ela desta forma, conclui que suas ações demonstravam um novo tipo de “mal”, que ela denominou de “mal banal”. 
Arendt escreveu (apud Schio, 2006, p. 70): 
Eu quero dizer que o mal não é radical, indo até as raízes (radix), que não tem profundidade, e que por esta mesma razão é tão terrivelmente difícil pensarmos sobre ele, visto que a razão, por definição, quer alcançar as raízes. O mal é um fenômeno superficial, e em vez de radical, é meramente extremo. Nós resistimos ao mal em não sendo levados pela superfície das coisas, em parando e começando a pensar, ou seja, em alcançando uma outra dimensão que não o horizonte de cada dia. Em outras palavras, quanto mais superficial alguém for, mais provável será que ele ceda ao mal. Uma indicação de tal superficialidade é o uso de clichês, e Eichmann, ... era um exemplo perfeito. 
O mal banal não tem “raízes”, pois ele é sem profundidade, mas atinge e prejudica as pessoas, que são inocentes, desprotegidas, e sem qualquer motivo. Além disso, Arendt percebeu que tais práticas do mal não carecem de situações, épocas ou causas, pois são passíveis de ocorrer em qualquer tempo e lugar, e pode ser cometido por qualquer pessoa, sem que ela decida, pretenda ou tenha más intenções. 
Como se pode perceber nas afirmações arendtianas, ela não apenas explicou o que ocorreu, pois também buscou as origens, que vão além das causas, pois busca atingir as “raízes”, distantes e profundas, do que ocorrera: a ausência de pensar, ou irreflexão; a falta de pensar e de julgar. 
Os agentes aplicadores da lei muitas vezes abdicam de pensar, assim como Eichmann o fez. Eles apenas raciocinam, ou seja, utilizam seu intelecto para organizar dados, para conhecer, mas jamais para o pensar. Podemos afirmar, então que eles apenas utilizam o juízo determinante no sentido kantiano, o qual atua dedutivamente, de modo normal, comum de agir, desta forma, não refletindo. 
Esta forma de agir normal do ser humano acontece por meio do juízo determinante, o qual muitas vezes não traz nenhum problema ou conflito, em situações com certo ar de normalidade. Entretanto, em algumas circunstâncias cotidianas tornasse necessário, e até mesmo vital que se utilize o juízo reflexivo, a fim de questionar aquilo que se faz. 
Estes agentes não utilizam a reflexão em nenhum sentido, não se questionam sobre o que se faz, ou até mesmo por que agem desta maneira e não de outra, e por isso, não conseguem perceber que o conjunto de regras, valores, hábitos, que suas instituições impõem. Eles se adaptam ao novo conjunto dentro de uma premissa maior e aplicam-na a todas as situações. 
Podemos constatar isso no uso de clichês e frases feitas utilizadas pelos agentes aplicadores da lei, os quais não demandam qualquer pensamento ou questionamento, somente um automatismo que prescinde de qualquer esforço racional. 
Valleé (1999, p.55), diz que o "pensamento crítico puder libertar a capacidade de julgar e [ele] assim nos protegerá contra as derivas totalitárias". Os aplicadores da lei não se questionam, não fazem uso da reflexão, agem de forma a não questionar aquilo que lhe é imposto através do doutrinamento institucional. 
Nesse sentido, podemos afirmar que segundo o pensamento arendtiano não há uma única forma de entender o “mal banal”, mas diversas maneiras de expor e buscar explicar sua possibilidade de ocorrência, ou seja, como ausência de pensamento, como irreflexão, falta de questionamento, carência de espontaneidade, inexistência de intersubjetividade, fechamento ao mundo e à realidade. E ainda, imersão na vida privada com a inexistência do espaço público, demissão de julgar, despresença da consciência, falta de imaginação e da capacidade de colocar no lugar do outro e pensar. 
Segundo Arendt, todo o ser humano possui as capacidades para pensar, querer e julgar, pois ele é racional, possui um corpo (sensibilidade), imaginação e memória, em especial. Porém, o mundo externo, com seus acontecimentos, com suas demandas, com a natureza, a cultura, está permanentemente exigindo a atenção humana, fornecendo dados, “forçando” o corpo e a mente humana a interagir com ele. Desta forma, os policiais aplicadores da lei passam a ser programado a atuar sem antes pensar, pois suas funções são a de cumprir aquilo que lhe é determinado. Passando a não serem mais senhores dos seus próprios atos. 
Existe aqui a perda do humano autêntico, não pela falta de regra ou mandamento que oriente os agentes como agir, pois estes sempre existirão, mesmo que erroneamente ou de modo distorcido, sequer por uma falta de racionalidade, pois o intelecto poderá atuar na busca de conhecimentos e verdades, mais isso não é suficiente para uma vida humana plena, ou seja, política, segundo Arendt. Essa mesma perda do humano é demonstrada quando os agentes aplicadores da lei pervertem o imperativo categórico kantiano para adequar-se a nova situação, a qual requer soluções imediatas para a criminalidade. Ou seja, o julgar “determinante” pode funcionar de forma automática, e o “reflexivo” estar inoperante ou atrofiado, mesmo assim, o mundo externo, ao circundar o ser humano, o “chama” constantemente a uma espécie de “resposta” ao que ocorre. Ou seja, não basta demonstrar,
com suas atitudes e palavras, que a moralidade não é suficiente para que o “mal banal” seja evitado, pois basta alterar as regras (premissa maior). É necessário manter o pensamento e o julgamento sempre ativos, em especial quando se tratam de questões políticas. 
Mesmo assim, e ainda segundo Arendt (1991), pensar, julgar e agir são sempre individuais, pois não há como responsabilizar, e punir, governos ou grupos: a responsabilidade é pessoal, de cada agente aplicador da lei. 
Podemos afirmar ainda que, as atitudes desses agentes ao banalizarem o mal, na forma dos autos de resistência seguido de morte, assim como fez Eichmann na Solução Final, há a carência da possibilidade de colocar-se no lugar do outro ou de levá-lo em consideração, a questão de alteridade. Nesse aspecto, valorizar o outro, mesmo que apenas em pensamento, avaliando suas opiniões, necessidades ou condições, é imposto ao ser humano pela simples presença do outro no mundo, pela categoria daquilo que é plural, afinal somos todos humanos vivendo no mesmo planeta. 
Para tanto, segundo Arendt (2011), o juízo e o pensamento precisam estar ativos e atuantes, supondo um cidadão participante, isto é, em convívio com os seus semelhantes, para que assim não sejam cometidos atos que são maus, não em suas pretensões, mas em seus resultados. 
A ética exige uma maneira pessoal de agir, pois só a moralidade não é suficiente. A obediência às regras e às leis não satisfaz às necessidades do cidadão singular, nem tão pouco aos agentes aplicadores da lei. A obediência a elas deve ser pensada e julgada quando os acontecimentos inesperados se apresentarem. As faculdade mentais, em exercício, repassam, revisam, constantemente os conteúdos e exige a presença e consideração dos outros, para que aconteça. O que ocorre e que os policiais aplicadores da lei precisam imaginar as conseqüências do ato, e responsabilizar-se por eles. 
Em certos momentos, então, o agente aplicador da lei precisa pensar se vai ou não praticar um ato que foge da habitual, sendo indispensável desligar-se dos automatismos, exercendo sua livre experimentação, devendo dar oportunidade que o pensamento atue de forma própria. Para tal mudança é preciso ter um ato de coragem, pois a sociedade atual desvaloriza a virtude em prol de uma vida biológica. 
Por esse motivo o pensar e o julgar muitas vezes são anulados e suprimidos, permitindo que haja uma adesão de comportamentos e regras pré-definidas, tipicamente presente na sociedade atual de massa, fazendo com que o ser humano torne-se solitário, desolado, apto a cometer o mal banal, fomentando Eichmann’s na sociedade.  

Será que estas propagandas seriam apropriadas nos dias de hoje?

Propagandas que chegam a ser chocantes por seu conteúdo discriminatório, machista, racista e com muitas referências sexuais. São 23 propagandas que seriam banidas na hora nos dias de hoje!
É bom saber que de alguma maneira estamos evoluindo, lentamente mas evoluindo.

1 - "Mantenha ela no seu devido lugar."



2 - Depois que a mulher queimou o jantar, o homem responde: "Não se preocupe querida, você não queimou a cerveja!"



3 - "Por que sua mãe não o lava com sabão Fairy?"



4 - "Porque a inocência é mais sexy do que você pensa."



5 - Papai Noel fumante!



6 - "Cocaína. A dor de dentes desaparece. Cura instantânea!"



7 - "Nós iremos usar Chlorinol e ficar como o negro branco."



 8 - "Quanto mais você joga com ele, mais duro ele fica."



9 - "Algo pra fazer com as mãos que não vai te cegar."



9 - "O chef faz tudo, menos cozinhar. É para isso que existem as esposas."



10 - "Médicos fumam mais Camel do que qualquer outro cigarro."



11 - Versão 2.



12 - "Comece cedo, faça a barba."



13 - "Comer com prazer e... sem fadiga."



14 - "Os homens são melhores que as mulheres!"
       "Em casa, as mulheres são úteis, até aprazíveis..."



15 -  "Mostre pra ela que o mundo é dos homens."



16 - "Parabéns Pai. Nós sabemos seu ABC: sempre mais suave, melhor sabor, mais legal de fumar."
       "... todos os benefícios do prazer de fumar."



17 - "Bom Natal para todos os fumantes."



18 - "É sempre ilegal matar uma mulher?"



19 - "É bom ter uma menina em casa!"



20 - "Sopre no rosto dela e ela o seguirá para qualquer lugar."



21 - "A maioria dos homens pergunta se ela é bonita e não se ela é inteligente!"



22 - "Quando mais uma mulher trabalha, mais bonitinha ela fica!"
       "Vitaminas querido. Eu sempre tomo minhas vitaminas."



23 -  "Se o seu marido descobre que você não anda testando café mais fresco..."





Quais serão os limites da Terra? – Ricardo Rose

Em interessante artigo, o economista Ricardo Abramovay comenta o livro The Human Quest (A
busca humana), recentemente lançados nos Estados Unidos. A publicação aborda aspectos da
evolução cultural e econômica do homem desde o final do último período glacial, sua evolução
através da história, até chegar à sociedade industrializada atual.

A evolução da espécie humana foi relativamente estável, sem importantes avanços
tecnológicos, por no mínimo 90% de período de nossa existência como espécie homo
sapiens. Indícios paleontológicos indicam que o homem moderno apareceu há cerca de cem
ou duzentos mil anos, tendo feito poucos avanços tecnológicos durante a maior parte deste
período. No entanto, por volta de dez mil anos atrás, o clima da Terra passou por mudanças,
provocando o derretimento das geleiras acumuladas por milhares de anos no hemisfério Norte.
Desde então, o clima da Terra se tornou mais quente e as variações médias de temperatura
nunca foram superiores a um grau. O homem, premido pelas condições, mas encontrando
ambiente favorável, começa a praticar a agricultura.

Ao longo deste período de cem séculos, a humanidade provocou grandes mudanças sobre
a face da Terra. A agricultura se espalhou; surgiram as grandes civilizações e os impérios;
a tecnologia se modernizou; novos continentes foram descobertos; inventou-se a produção
industrial e o consumo em massa; a população aumentou e expandiu-se a área ocupada pela
agricultura. Como consequência - cada vez mais confirmada pelas pesquisas - o ambiente
da Terra foi sofrendo alterações: de 1960 até hoje, o aumento da temperatura média global
foi de 0,8 graus. O ritmo de destruição dos ecossistemas (e com eles o das espécies) avança
vertiginosamente. As alterações que estamos provocando no planeta são tão grandes e em
tantas áreas, que muitos cientistas já falam em um novo período geológico: o antropoceno,
significando "a era do homem". A ação da humanidade é hoje, sem sombra de dúvida, o mais
importante causador das mudanças geológicas, naturais e climáticas por que passa o planeta.

O livro define aspectos do ambiente da Terra, para os quais os autores estabeleceram limites
de alteração. Estas marcas, se ultrapassados, tornarão incerta a manutenção das condições
de sobrevivência, assim como as conhecemos atualmente. Os aspectos considerados pelos
autores são as mudanças climáticas; a destruição da camada de ozônio e a acidificação dos
mares; a perda da biodiversidade; o uso da água; a mudança no uso da terra; os ciclos do
nitrogênio e do fósforo; a poluição atmosférica por particulados e a poluição química. Estes
aspectos, associados ao aumento da população, do consumo e das desigualdades econômicas
já estão colocando em marcha um processo, cujo desenvolvimento e consequências são
praticamente imprevisíveis.

Em consequência desta imponderabilidade, os autores também criticam o conceito de
desenvolvimento sustentado, tão difundido e pouco avaliado. O objetivo escreve Abramovay
em seu comentário, "não pode ser o de continuar fazendo o que se fez até aqui, procurando,
porém, "reduzir impactos"". A relação entre sociedade e natureza deve ser colocada no
centro de todas as decisões econômicas, para que ainda possamos - nós e a natureza - ter
capacidade de reação e recuperação, de voltar à situação inicial - processo conhecido como
resiliência.

Lucrécio e o consumo – Ricardo Rose

Escrevia o poeta e filósofo romano Lucrécio (99 a.C-55 a.C) que “nada vem do nada e nada acaba em nada”, referindo-se ao fluxo do universo; a energia a matéria e a vida. Este mesmo princípio, se pensarmos bem, também se aplica perfeitamente ao nosso mundo humano: a economia, com todos os seus fluxos de matérias primas, insumos, energia e produtos. Podemos não nos dar conta disso, mas todo e qualquer produto tem uma origem anterior e mesmo depois de descartado não desaparece.

O sapato, por exemplo; se é um produto de qualidade, é feito de couro. O couro geralmente é extraído do gado bovino, que precisa se alimentar e crescer em áreas de pasto e com ração. A área de pastagem em alguma época passada já foi área de floresta ou cerrado, removida para dar lugar à criação. A ração é principalmente produto da mistura de capins, silagens e farelos, plantados em terrenos que originalmente também foram ocupados por algum tipo de ecossistema natural. Assim, para obter a principal matéria prima do sapato, os homens tiveram que ocupar e destruir espaço da natureza.

O passo seguinte, depois da extração, é a preparação do couro, o curtimento. Para isso também são necessários produtos químicos de origem vegetal, como o tanino, ou mineral, como o cromo. Tanto para a produção do tanino, extraído principalmente da casca do carvalho, quanto para a extração de cromo na forma mineral, é necessário agredir o ambiente original, seja pela agricultura ou mineração. Além disso, o processo de curtição do couro demanda grandes volumes de água e gera efluentes altamente tóxicos. Não podemos nos esquecer de que muitos sapatos têm sola de borracha, o que implica falar sobre mais outro segmento industrial e seus impactos ambientais, o que, todavia não faremos no momento.

Pronto o sapato, este é distribuído para as lojas, geralmente por via rodoviária. Os caminhões operam com diesel e ainda têm motores relativamente poluentes, emitindo grandes quantidades de CO² e outros gases causadores das mudanças climáticas. Também precisamos considerar o fato de que para comprar o par de sapatos, o consumidor necessita se deslocar – geralmente com seu próprio carro, dada a baixa qualidade do transporte público no Brasil – e assim também contribuiu com emissões de gases poluentes.

Depois de alguns meses ou até anos, dependendo da freqüência do uso e da qualidade do produto, o sapato está gasto – nem o sapateiro pode ajudar mais. Geralmente o destino do calçado é o lixo e dali para um aterro sanitário, onde levará em média 50 anos até que se decomponha.

Esta é uma descrição bastante simplificada dos impactos ambientais que ocorrem na produção de um par de sapatos. As matérias primas e insumos têm sua origem na natureza. Estas, somadas à energia dos derivados de petróleo, à eletricidade de hidrelétricas e ao trabalho humano físico e mental, formam os bens e serviços necessários à nossa sobrevivência. Este processo ocorre e se repetirá por bilhões de vezes com os produtos e serviços que diariamente são consumidos pela humanidade, até que acabem as matérias primas, a fertilidade dos solos, a disponibilidade de água, as fontes de energia e outros insumos. Quanto a isso, Lucrécio também escreveu: “Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, / a grande riqueza seria viver com pouco, / serenamente: o que é pouco nunca é escasso.

Sociedade ignora assassinatos de jovens - Ricardo Rose

revólver desenho

Em artigo recente publicado no jornal Valor, Atila Roque, diretor executivo da ONG Anistia Internacional escreve que "o Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de epidemia de indiferença", referindo-se à maneira como parte da sociedade e o governo vêm tratando a questão do homicídio de crianças e adolescentes no Brasil. Somente no ano 2010, segundo a ONG, foram mortos 8.686 jovens - o equivalente a 43 aviões da TAM iguais aquele acidentado em 2007 e que justificadamente causou grande consternação na opinião pública. A comparação, feita pelo próprio diretor executivo da instituição, tem como objetivo ressaltar a pouca atenção que o assassinato em massa de parte da população jovem brasileira desperta.

Segundo dados divulgados no estudo "Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes do Brasil", elaborado pelo Núcleo de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e coordenado pelo pesquisador Júlio Jacobo Waiselfisz, entre 1981 e 2010 foram assassinados no Brasil 176.044 indivíduos com menos de 19 anos, 90% dos quais do sexo masculino. Os números refletem a maneira descoordenada e desatenta - para dizer o mínimo -, como a questão da segurança pública foi e continua sendo tratada no Brasil, independentemente de governos autoritários ou democraticamente eleitos. Exemplo mais recente do pouco caso com a questão da segurança foi o engavetamento do Plano Nacional de Redução de Homicídios pelo Ministério da Justiça, por ordem da presidente Dilma, que optou por priorizar a ampliação do sistema penitenciário, o combate ao crack e a segurança das fronteiras - este último, particularmente, avançando a passos muito lentos segundo reportagens recentes.

Do estudo mencionado se conclui que as chances de crianças e jovens morrerem assassinados são atualmente maiores do que eram há 30 anos, o que também nos coloca na quarta pior classificação em uma pesquisa realizada entre 91 países. Os dados comprovam tais fatos: em 1980 a taxa de homicídio entre a população de zero a 19 anos era de 3,1 assassinatos para cada 100 mil indivíduos; aumentando para 7,7 em 1990; alcançando 11,9 em 2000; e atingindo a marca de 11,9 em 2010. Ressalta Atila Roque em seu artigo que houve um aumento de 346,4% de aumento na taxa de homicídios no País nos últimos 30 anos, enquanto que a mortalidade por motivos de saúde (epidemias, desnutrição, viroses) teve uma queda acentuada (mas que também ainda está longe de ser a ideal).

Considerando a população como um todo, a taxa de homicídios no Brasil em 2010 foi de 27 mortes para cada 100 mil habitantes. Institutos internacionais de pesquisa afirmam que existe uma epidemia de homicídios, quando em um país o número de assassinatos excede 10 pessoas a cada 100 mil. Dentre as nações que não estão enfrentando um conflito interno ou externo, o Brasil é o país com o maior numero absoluto de homicídios em todo o mundo.

Esta situação reflete a marginalização à qual é submetida parte da população - seja por motivos econômicos, raciais, culturais ou geográficos. A sociedade brasileira ainda precisará realizar várias reformas econômicas, sociais, educacionais e jurídicas antes que possa se intitular efetivamente como democrática e republicana.

“Metas de Sustentabilidade para Municípios Brasileiros” - Ricardo Rose

Em época de eleições municipais todos os partidos e candidatos aparecem com novas idéias – geralmente antigas propostas com novas roupagens. Todavia, o que nenhum candidato apresenta é um programa completo, que trate das necessidades de uma forma coordenada; um programa com começo, meio e fim. São soluções pontuais para alguns problemas específicos, sem encadeamento, sem abranger a cidade em todos os seus aspectos.

A Rede Nossa São Paulo, a Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e o Instituto Ethos, são ONGs que trazem uma importante contribuição para as próximas eleições, tanto para os candidatos quanto para os eleitores. Acabam de divulgar as “Metas de Sustentabilidade para os Municípios Brasileiros”, (http://www.cidadessustentaveis.org.br/downloads/publicacoes/publicacao-metas-de-sustentabilidade-municipios-brasileiros.pdf), um documento elaborado tendo em vista o desenvolvimento urbano baseado em uma ótica socioambiental. Única no mundo, a proposta apresenta uma série de sugestões em várias áreas, contendo programas e exemplos práticos. De uma maneira bastante resumida, apresentamos abaixo os principais itens tratados pelo documento:

a) Governança, visando fomentar a participação dos cidadãos de uma maneira inclusiva nas diversas decisões político-orçamentários do município;

b) Proteger os bens naturais, preservando áreas e utilizando insumos como água e energia de maneira mais eficiente;

c) Equidade, justiça social e cultura de paz, prevenindo a pobreza e ampliando o acesso aos serviços públicos, promovendo a inclusão social e a segurança;

d) Gestão local para a sustentabilidade, apoiando a implantação da Agenda 21 e de diversas ações de sustentabilidade;

e) Planejamento e desenho urbano valorizado na abordagem de questões econômicas, sociais, culturais e de saúde;

f) Cultura para sustentabilidade, desenvolvendo políticas culturais que valorizem a diversidade, o pluralismo e a defesa do patrimônio cultural;

g) Educação para sustentabilidade e qualidade de vida, promovendo oportunidades de educação para todas as camadas da população, para que se transformem em protagonistas do desenvolvimento sustentável do município;

h) Economia local dinâmica e sustentável, visando estimular a produção e o emprego local, desenvolver princípios de sustentabilidade nas empresas e no turismo;

i) Consumo responsável e opções de estilo de vida, produzindo de maneira ambientalmente correta, utilizando os recursos com eficiência e promovendo a reciclagem com inclusão social de catadores e recicladores;

j) Melhor mobilidade, menos tráfego, reduzindo o transporte individual, melhorando o transporte público e adotando o alternativo, como bicicletas e veículos menos poluentes;

k) Ação local para a saúde, promovendo informações sobre vida mais saudável, investindo na saúde pública com gestão participativa;

l) Do local para o global, assumindo responsabilidades globais pela paz, justiça social e proteção ao ambiente.

Os candidatos ao legislativo e ao executivo nas próximas eleições municipais têm obrigação de pelo menos ler este importante documento. As sugestões aí apresentadas poderão ajudar muito as futuras administrações. Nós, eleitores, devemos conhecer as propostas para fiscalizar e cobrar nossos candidatos.

A "Crítica da Razão Pura" de Kant e o desenvolvimento da Ciência - Ricardo Rose

Kant

"O Nirvana está aqui e agora, no meio do Samsara, e não há problema de ele ser um estado de unidade distinto de um estado de multiplicidade: tudo depende da nossa própria compreensão interior." - Alan Watts - O Espírito Zen

A ciência teve um grande desenvolvimento a partir do Renascimento, com a introdução da matemática e da experimentação ao processo de pesquisa científica. Efetivamente, tais práticas não existiam – pelo menos como método regular – na Idade Média, já que neste período se tinha uma idéia formada do funcionamento do mundo baseada na filosofia de Aristóteles. O filósofo grego influenciou o pensamento oficial da Igreja Católica a partir do século XIII, tornando-se o inspirador da filosofia tomista. Para esta escola filosófica a natureza estava explicada; o que não se conseguia explicar com os conhecimentos disponíveis era objeto de fé.

No período do Renascimento os artistas-cientistas, como Leonardo da Vinci e os cientistas-filósofos, como Francis Bacon, passam a valorizar o uso da matemática (da Vinci) e do experimento (Bacon) nas ciências. Além disso, Copérnico e Kepler, ambos fazendo uso de cálculos matemáticos, provocam uma revolução na visão de mundo da época, quando demonstram (mais tarde comprovado com o uso de telescópios) de que a Terra não era o centro do universo (conhecido) e sim o Sol.

Entre os séculos XVII e XVIII surge Isaac Newton, cientista e matemático, que irá influenciar profundamente a filosofia de Kant. Newton desenvolve a teoria da gravitação universal, que explicará grande parte do funcionamento do universo em sua época, com a ajuda da matemática. Por outro lado, também na Inglaterra, surge no mesmo século o pensador David Hume, que com seu ceticismo colocará em dúvida a ciência da época e, principalmente, todo o conhecimento. Hume critica o princípio de causalidade, como um simples hábito mental, baseado na experiência freqüente de certos acontecimentos. Entre a lei de gravitação de Newton e a negação do princípio de causalidade por Hume, Kant tem um choque e acordo de seu “sono dogmático”.

A crítica de Hume não é somente contra a metafísica e a estrutura da ciência, mas contra a razão em si. Kantdecide, depois de longo período de meditação, escrever uma obra que descrevesse o método pelo qual podemos obter um verdadeiro conhecimento do mundo, baseado em critérios racionais. Tal obra é a “Crítica da Razão Pura”.

Inicialmente, Kant estabelece uma distinção entre o conhecimento “a priori”, que independe de qualquer sensação, e o conhecimento “a posteriori”, que depende de uma sensação. Em seguida, Kant propõe a distinção entre juízos analíticos, “aqueles em que a conexão do predicado e do sujeito for pensada por identidade” (Kant, p.10) e juízos sintéticos, “aqueles em que esta conexão for pensada sem identidade” (Kant p.10). Daí Kant conclui que os juízos da experiência são todos sintéticos, mas que “a física contém, como princípios, juízos sintéticos a priori. Como exemplo, citarei duas proposições: nas alterações do mundo corpóreo a quantidade de matéria continua sempre a mesma, ou, nas comunicações de movimento, ação e reação precisam ser sempre iguais” (Kant p.13).

Na Introdução da Crítica da Razão Pura, Kant pergunta: “Como a matemática pura é possível?” e “Como a ciência pura da natureza é possível?” Através de sua obra o pensador estabelece as condições nas quais a matemática (a priori sintético) e a ciência são possíveis, na pessoa do Sujeito Transcendental; princípios admitidos por Kant que possibilitam o conhecimento.

Com isso, a principal influência de Kant sobre o desenvolvimento da ciência foi estabelecer novas teorias epistemológicas, que (pelo menos por um certo período na história do pensamento ocidental) estabeleciam as condições nas quais poderíamos dizer que nossa interação com o mundo tem base real, de modo a validar nossos raciocínios, inclusive a interpretação científica da realidade.

O pensamento kantiano, posteriormente, foi criticado por diversos autores, sob diversos aspectos, não sendo mais universalmente aceito como critério de validação da ciência. Mas isto já é outro capítulo do pensamento filosófico ocidental.

Bibliografia

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo. Ícone Editora: 2007, 541 p.

A teoria do aquecimento global - Ricardo Rose

Nos últimos meses, voltou a esquentar a polêmica sobre o aquecimento global. Defendem alguns cientistas – os assim chamados “céticos do clima” – de que a temperatura média da Terra não está aumentando e que as mudanças climáticas por isso também não existem. Portanto, a ação das atividades econômicas sobre o clima da Terra é inócua. Todas as emissões de gases, aparentemente causadores do efeito estufa, não têm qualquer influência sobre a temperatura e o clima.

No entanto, um estudo realizado pela agência espacial americana NASA e publicado na revista científica PNAS (Proceedings of National Academy of Sciences), está revelando que efetivamente a temperatura da Terra vem aumentando nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, um dos mais famosos “céticos do clima”, o climatologista e físico da Universidade da Califórnia, Richard Müller, realizando uma pesquisa em 2011, concluiu que realmente a temperatura do planeta está subindo. Ao mesmo tempo, segundo o climatologista, existem fortes indícios de que os gases provenientes das atividades humanas estejam provocando este escalada da temperatura.

climate2

Os gases de efeito estufa são originados principalmente pelos setores de geração de energia do hemisfério Norte, que queimam grandes quantidades de carvão mineral, para manter suas termelétricas em pleno funcionamento. Outro setor altamente emissor é o dos transportes – somente a frota mundial de automóveis, segundo estimativas mais recentes, está em torno de 1,1 bilhões de veículos. E isso sem contar os aviões, trens, navios e outros meios de transporte. Logo atrás destes setores, em volume de emissões, vem a atividade agrícola, que só no Brasil é responsável por mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa. As chamadas mudanças do uso do solo quando, por exemplo, uma floresta é derrubada para dar lugar à agricultura, pastagens ou outra forma do uso da terra, liberam para a atmosfera uma grande quantidade de metano – um gás resultante da decomposição de matéria orgânica e muito prejudicial ao clima. Mesmo a atividade agrícola comum, como o plantio da cana-de-açúcar, cujas folhas cortadas apodrecem no solo, é grande geradora de emissões.

Como toda a teoria científica, o fenômeno das mudanças climáticas – resultado do acúmulo de gases na atmosfera em parte gerados pelas atividades humanas – ainda não está provado com toda a certeza científica. Mas é preciso considerar que o grau de veracidade desta teoria já é bastante alto, fundamentado por descobertas e dados estatísticos que aparecem a cada semana. Se os argumentos dos “céticos do clima” explicam certos fenômenos de outra forma, sem utilizar a teoria do aquecimento global, há vários fatos que são mais bem harmonizados com o auxílio da teoria.

Independentemente de sua certeza, a teoria do aquecimento da Terra com a ajuda da atividade humana está prestando um grande serviço. Na pior das hipóteses está chamando a atenção para as emissões de gases causadas por nossas poluentes máquinas, pelos resíduos e lixões, pelos desflorestamentos, pelos efluentes domésticos não tratados e vários outros problemas. Se não fosse certa urgência causada por esta teoria, os governos e os grandes emissores de todo o mundo ainda estariam pensando em limpar a poluição depois de gerada – a mentalidade do tratamento de “final de tubo” –, ao invés de evitá-la, através da prevenção à poluição e da ecoeficiência.

Meio ambiente e doenças - Ricardo Rose

Os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente, a natureza, ainda tem aspectos imprevisíveis. Se nas regiões urbanas e as áreas agrícolas, ocupadas há muito tempo pelas atividades humanas, quase não restam vestígios dos ecossistemas naturais, mesmo assim o mundo natural continua influenciando as modernas sociedades. Há alguns anos cientistas já vinham alertando sobre novos tipos de vírus que o homem poderia encontrar ao avançar sobre as últimas áreas inóspitas do planeta, como as florestas situadas em áreas tropicais.

Segundo matéria publicada recentemente no jornal The New York Times, grande parte das doenças que afetam os seres humanos têm causas ambientais; 60% são de origem zoonótica, ou seja, transmitidas por animais. Destas, mais de dois terços por animais selvagens. Exemplo disso são as síndromes provocadas pelo vírus Ebola, pelo Oeste do Nilo, a Síndrome Respiratória Grave (SARS), a gripe aviária H5N1, a influenza H1N1, entre outros. São inúmeras as doenças viróticas que em têm origem nas espécies selvagens e que sofrendo mutações passam de uma espécie a outra até chegar ao homem.

O assunto é tão sério, que veterinários, biólogos e outros especialistas juntaram-se a médicos e epidemiologistas para tentar descobrir como a interação do ambiente natural com o humano pode resultar em novas doenças epidêmicas. O estudo faz parte de um projeto batizado de "Predict" (“prever” em inglês), financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Neste estudo, os especialistas tentam descobrir como através da alteração do ambiente – seja pela derrubada da floresta para uma nova área agrícola ou construção de uma barragem –, colocando pessoas em contato com novos tipos de vírus, pode-se desenvolver-se uma doença desconhecida. O passo seguinte é localizar a moléstia quando surge, antes que se espalhe. Em seu trabalho os pesquisadores estão reunindo sangue, saliva e outras amostras de animais selvagens, a fim de criar um banco de espécies de vírus. Assim, quando uma destas cepas de microorganismos infectarem seres humanos, podem rapidamente ser identificados e combatidos. Além disso, os cientistas estão desenvolvendo técnicas de gestão de florestas, animais selvagens e gado, de modo a prevenir que doenças deixem a área florestal e se transformem na próxima pandemia.

Os cientistas já identificaram vários casos de transmissão de doenças de espécies selvagens para domesticadas, chegando aos humanos. Na Ásia, por exemplo, um vírus que tem como hospedeiro um tipo de morcego frutífero foi transmitido a uma criação de porcos – os morcegos deixaram cair frutos infectados pelo vírus e estes foram comidos pelos suínos. Posteriormente, a carne de porco foi consumida e o vírus terminou por infectar seres humanos. O fato, ocorrido na Malásia em 1999, teve como resultado a infecção de 276 pessoas, das quais 106 morreram de complicações no sistema neurológico, causadas pelo vírus. Desde então apareceram doze casos parecidos no sul da Ásia e outros na Austrália.

"Qualquer nova doença nos últimos 30 ou 40 anos surgiu como resultado da ocupação de áreas selvagens e mudanças na demografia", afirma Peter Daszak um ecologista dedicado ao estudo de doenças. Eventos como estes também podem ocorrer nas vastas áreas ainda inexploradas do Brasil, onde vivem inúmeros microorganismos ainda desconhecidos.