Rio + 20: é hora de assumir compromissos!–Ricardo Rose

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO + 20, ainda pairam muitas dúvidas sobre o que será debatido no evento e os resultados do encontro para o futuro. Falta um consenso sobre os temas a serem discutidos e negociados entre os participantes. Se, por um lado, o enfoque principal é sobre a economia verde – o uso eficiente de recursos –, as discussões também deverão incluir o debate sobre a questão social. Nesse aspecto parece estar havendo uma queda de braços entre grupos representados principalmente pelos países ricos, favoráveis a limitar as discussões apenas às questões do uso dos recursos, e entre outra corrente, lideradas pelo Brasil, que pretende incluir o tema social nas discussões.

Além deste antagonismo entre as duas visões da economia verde, ainda existem outros fatores influenciando todo o ambiente que precede a RIO + 20. A economia mundial está sendo afetada por problemas financeiros globais que tiveram sua origem na crise dos subprimes americanos em 2008, atingindo especialmente a economia americana e européia, que parecem despencar para uma recessão que levará anos para passar. Nesta situação será difícil fazer com que os países dêem grande importância a um evento que pretende implantar uma economia mais eficiente e menos poluidora, o que implica em investimentos adicionais em tecnologias – coisa que estes países não pretendem fazer pelo menos por enquanto. Antes de pensar em gastos, mesmo que para reduzir os impactos ambientais, a prioridade é sair da crise.

Do lado dos países pobres a situação ainda é mais premente. Segundo o economista Ladislau Dowbor, existe um bilhão de pessoas passando fome no mundo, das quais 180 milhões são crianças. A cada dia morrem cerca de 30 mil pessoas de inanição, ou por problemas causados pela falta de água limpa para consumo. Falta de tratamento de esgoto, contaminação das águas de rios e do lençol freático por resíduos industriais e agrotóxicos, são mais problemas que afetam outras centenas de milhões de pessoas na China, Índia, Paquistão e Brasil, entre outros países em desenvolvimento.

Não há, contudo, como evitar as discussões e chegar a um denominador comum entre os países. Porque se de um lado há uma grave crise econômica afetando sociedades com relativo bem estar, de outro lado os países pobres e em desenvolvimento – supridores de matérias primas e de mão de obra barata – continuam enfrentando as mesmas dificuldades pelas quais passam há décadas. Não é possível que devido a uma crise econômica passageira, provocada essencialmente pela especulação financeira que beneficiou pessoas e empresas dos países ricos, as discussões a serem realizadas na RIO + 20 sejam prejudicadas. Não há mais tempo para que os países mais ricos – incluindo aí o Brasil – se esquivem de assumir compromissos na área ambiental e social.

O Brasil, aliás, tem a pretensão de assumir uma posição de liderança durante os debates que deverão ocorrer. Para isso, no entanto, deveria ser capaz de dar mostras de êxitos alcançados. A pergunta que fica é se depois da votação do Código Florestal, da baixa taxa de saneamento básico, da matança dos botos na Amazônia, do consumo exagerado de agrotóxicos, entre outros fatos, o Brasil ainda tem condições de se tornar exemplo para o mundo, como pretendem alguns.

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