Quais serão os limites da Terra? – Ricardo Rose

Em interessante artigo, o economista Ricardo Abramovay comenta o livro The Human Quest (A
busca humana), recentemente lançados nos Estados Unidos. A publicação aborda aspectos da
evolução cultural e econômica do homem desde o final do último período glacial, sua evolução
através da história, até chegar à sociedade industrializada atual.

A evolução da espécie humana foi relativamente estável, sem importantes avanços
tecnológicos, por no mínimo 90% de período de nossa existência como espécie homo
sapiens. Indícios paleontológicos indicam que o homem moderno apareceu há cerca de cem
ou duzentos mil anos, tendo feito poucos avanços tecnológicos durante a maior parte deste
período. No entanto, por volta de dez mil anos atrás, o clima da Terra passou por mudanças,
provocando o derretimento das geleiras acumuladas por milhares de anos no hemisfério Norte.
Desde então, o clima da Terra se tornou mais quente e as variações médias de temperatura
nunca foram superiores a um grau. O homem, premido pelas condições, mas encontrando
ambiente favorável, começa a praticar a agricultura.

Ao longo deste período de cem séculos, a humanidade provocou grandes mudanças sobre
a face da Terra. A agricultura se espalhou; surgiram as grandes civilizações e os impérios;
a tecnologia se modernizou; novos continentes foram descobertos; inventou-se a produção
industrial e o consumo em massa; a população aumentou e expandiu-se a área ocupada pela
agricultura. Como consequência - cada vez mais confirmada pelas pesquisas - o ambiente
da Terra foi sofrendo alterações: de 1960 até hoje, o aumento da temperatura média global
foi de 0,8 graus. O ritmo de destruição dos ecossistemas (e com eles o das espécies) avança
vertiginosamente. As alterações que estamos provocando no planeta são tão grandes e em
tantas áreas, que muitos cientistas já falam em um novo período geológico: o antropoceno,
significando "a era do homem". A ação da humanidade é hoje, sem sombra de dúvida, o mais
importante causador das mudanças geológicas, naturais e climáticas por que passa o planeta.

O livro define aspectos do ambiente da Terra, para os quais os autores estabeleceram limites
de alteração. Estas marcas, se ultrapassados, tornarão incerta a manutenção das condições
de sobrevivência, assim como as conhecemos atualmente. Os aspectos considerados pelos
autores são as mudanças climáticas; a destruição da camada de ozônio e a acidificação dos
mares; a perda da biodiversidade; o uso da água; a mudança no uso da terra; os ciclos do
nitrogênio e do fósforo; a poluição atmosférica por particulados e a poluição química. Estes
aspectos, associados ao aumento da população, do consumo e das desigualdades econômicas
já estão colocando em marcha um processo, cujo desenvolvimento e consequências são
praticamente imprevisíveis.

Em consequência desta imponderabilidade, os autores também criticam o conceito de
desenvolvimento sustentado, tão difundido e pouco avaliado. O objetivo escreve Abramovay
em seu comentário, "não pode ser o de continuar fazendo o que se fez até aqui, procurando,
porém, "reduzir impactos"". A relação entre sociedade e natureza deve ser colocada no
centro de todas as decisões econômicas, para que ainda possamos - nós e a natureza - ter
capacidade de reação e recuperação, de voltar à situação inicial - processo conhecido como
resiliência.

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