Espécies desaparecem, e nós?–Ricardo Rose

acid

Nas últimas semanas chamou atenção uma pesquisa realizada pela universidade de Plymouth, da Inglaterra, mostrando que os oceanos estão ficando cada vez mais ácidos. A acidez gradual das águas marinhas ocorre, segundo os cientistas, devido a quantidades cada vez maiores de dióxido de carbono (CO²) contidas na atmosfera, que se diluem nos mares. Este gás, encontrado em quantidades reduzidas na atmosfera, é em grande parcela resultante da queima de combustíveis pelo setor industrial, de transportes e da geração de energia (principalmente nos países do Norte). A previsão é que esta gradual acidificação das águas poderá causar uma mortandade de até 30% das espécies marinhas. O processo, evidentemente, não ocorrerá em alguns anos, mas aos poucos, ao longo de um ou dois séculos. O cientista britânico Jason Hall-Spencer, autor da pesquisa, comenta que no passado geológico o planeta passou por processo parecido. Há 55 milhões de anos os oceanos terrestres sofreram acidificação semelhante, mudança que levou 10 mil anos para atingir seu ponto máximo. Depois disso, o grande ecossistema da Terra reverteu a alta concentração de CO² nas águas, precisando para isso outros 125 mil anos.

Outro fato que despertou a atenção foi a reportagem do jornal O Estado de São Paulo, reportando que a pesca de peixe no litoral do estado está caindo a cada ano. Segundo pescadores artesanais da região de Camburí, litoral norte de São Paulo, a quantidade de peixe capturada vem caindo há pelo menos uma década. A percepção dos pescadores é confirmada pelos dados oficiais: segundo o Instituto de Pesca de São Paulo, o volume de pescado capturado no Estado em 2011 foi de 20,5 mil toneladas; 20% a menos que há dez anos e 60% a menos que há 20 anos. A culpa, segundo os pescadores, é dos grandes barcos que operam em águas mais profundas, com compridas redes e radares com capacidade de localizar os cardumes a grandes distâncias. Com isso assiste-se ao colapso de diversos tipos de pescado. A sardinha-verdadeira (sardinella brasiliensis), por exemplo, já foi um dos principais produtos da pesca nas regiões Sul e Sudeste. Na década de 1970 a produção anual deste peixe era de mais de 200 mil toneladas, caindo para 32 mil na década de 1990 e chegando a 17 mil toneladas anuais em 2000. Depois da instituição do período de defeso, quando o peixe está em fase de reprodução e sua pesca é proibida por lei, a produção subiu e estacionou em torno das 80 mil toneladas anuais.

Os dois fatos muito pouco tem a ver um com o outro, pelo menos até agora. No entanto, são dois indícios de como, através de nossas atividades produtivas, estamos reduzindo e gradualmente destruindo o estoque de recursos naturais. Por um lado, a crescente acidificação das águas destruirá a população dos corais, que funcionam como habitat e local de alimentação e procriação para muitas espécies marinhas: peixes, crustáceos, tartarugas e moluscos. Por outro lado, a pesca intensiva, destruindo indivíduos menores as fêmeas em fase de reprodução, reduzirá cada vez mais as possibilidades de sobrevivência das espécies destes peixes.

Ao final, resta a pergunta sobre que tipo de futuro antevemos para a humanidade, já que a Terra cuida de si mesma, não precisa de nossa intervenção. Ferida, se recupera; espécies vivas vêm e vão e no final a vida permanece; com ou sem nós.

Nenhum comentário: