Progresso pra quem? - Ricardo Rose


Todo progresso tem um custo, frase que lemos e escutamos frequentemente. Esta afirmação quase sempre é de autoria daqueles que tiram proveito do tal progresso, e não dos que arcarão com o seu custo. O que parece implícito nesta afirmação é queprogressosempre significamelhoria para todos” – quando geralmente não é. Propaga-se a idéia de que fatos inevitáveisque criarão mudanças. Estas provocarão necessariamente uma melhoria: oprogresso; que, no entanto, custará um sacrifício. Cabe questionar o que é o progresso em determinado contexto, a quem beneficiará, e quem pagará por ele.


A história de todas as sociedades está cheia destas falácias. Principalmente, quando a idéia deprogressoaparece associada aos projetos de grupos dominantes, que sutilmente convencem o restante da sociedade de sua necessidade. A construção de usinas nucleares foi sinônima de progresso, em países que hoje planejam a substituição deste tipo de energia. A troca do bonde elétrico pelo ônibus a diesel também foi sinal de melhoria nos transportes públicos em São Paulo, assim como a derrubada da floresta na região amazônica também representou o avanço da civilização, do progresso, nos anos 1970. Ninguém, munido das informações de que dispomos atualmente, classificaria estes fatos como indício de progresso. Mas, como dissemos acima, a introdução destas tecnologiasoprogressoà épocaalém de ser algo novo, também atendia aos interesses de grupos de poder que se beneficiaram com a mudança tecnológica. A conta, como sempre, ficou a cargo da sociedade civile nesta os pobres são os que sempre pagam a maior parcela.


Fatos semelhantes estão ocorrendo neste momento, em vários pontos do Brasil. Os estádios da Copa 2014, a transposição do Rio São Francisco, e vários outros projetos; todos nos trarão progresso, dizem. Neste contexto a Folha de São Paulo publicou artigo sobre o desaparecimento de peixes no Rio Madeira, onde estão localizadas as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, esta última ainda em construção. O rio Madeira é o 17º maior rio dentre todos os que existem no planeta Terra. Sua imensa diversidade biológica, no entanto, foi afetada com as obras de engenharia. Vários tipos de peixesdenominadas genericamente debagres” – geravam 29 mil toneladas de pescado por ano. Estas espécies desapareceram, segundo o relato de pescadores aos jornalistas do jornal, que visitaram a região. O fenômeno havia sido previsto por cientistas, antes do início das obras. O fato se deve principalmente à diminuição da correnteza no lago formado pela barragem, o que deixa o fundo sem oxigenação, impedindo a sobrevivência de determinadas espécies de peixes abundantes na região.


O jornalista Leão Serva, em artigo publicado sobre o assunto no blogObservador Político(http://www.observadorpolitico.org.br/observadores/leaoserva/), relata que outras obras do mesmo tipoalém das que estão em andamento no Rio Xingudeverão ser construídas na Amazônia durante os próximos anos, causando impactos semelhantes, previstos pelos cientistas desde 2006. Se este é o começo do custo que a população da região pagará pelo supostoprogresso, como será o futuro? Ecossistemas degradados, desaparecimento de espécies, problemas sociais... Diziam os romanos: cui bono, quem se beneficia?

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